Instinto de vida e instinto de morte

05/12/2023 11:53

 

“Essa tendência à agressão, que podemos detectar em nós mesmos e presumir justamente que está presente em outros, é o fator que perturba nossas relações com nosso vizinho e que força a civilização a um gasto tão grande [de energia]. Em consequência dessa hostilidade primitiva entre os seres humanos, a sociedade civilizada está sob constante ameaça de desintegração. O interesse do trabalho em comum não a manteria unida; as paixões instintivas são mais fortes que os interesses razoáveis. A civilização precisa usar seus maiores esforços para impor limites aos instintos agressivos do homem e manter suas manifestações sob controle por meio da formação de reações psíquicas. Daí [...] a restrição sobre a vida sexual, e daí também [...] o mandamento de amar nosso vizinho como a nós mesmos – um mandamento que é realmente justificado pelo fato de que nada é tão contrário à natureza original do homem [...] A civilização é um processo a serviço de Eros, cujo propósito é combinar indivíduos humanos, e então famílias, raças, pessoas e nações, em uma grande unidade, a unidade da humanidade. Por que isso tem de acontecer, nós não sabemos; o trabalho de Eros é precisamente este [...] Os homens hão de ser libidinosamente atados uns aos outros [...] Mas o instinto agressivo natural do homem, a hostilidade de todos contra todos, se opõe a esse programa de civilização. Esse instinto agressivo é derivado, e é o principal representante, do instinto de morte que encontramos ao lado de Eros e que compartilha com ele o domínio do mundo. E agora, creio eu, o significado de evolução da civilização já não é obscuro para nós. Deve apresentar a luta entre Eros e Morte, entre o instinto de vida e o instinto de destruição, tal como se revela na espécie humana. É dessa luta que, em essência, toda vida consiste.”

 

Niall Ferguson, Civilização