Armadilha das Forças Armadas
“A atribuição conferida às Forças Armadas de garantir os poderes constitucionais muito se aproxima do papel do poder moderador previsto no artigo 98 da Constituição de 1824, qual seja, o de velar sobre “a manutenção da independência, equilíbrio e harmonia dos mais poderes políticos”. É como se a República desconfiasse de sua capacidade de exercer o autogoverno civil e entregasse às Forças Armadas o papel político de tutela.
Cria-se, desse modo, um círculo vicioso: as Forças Armadas intervêm em nome da garantia da estabilidade do sistema político; as intervenções, por sua vez, dificultam a consolidação das práticas democráticas. Estamos presos nessa armadilha e não conseguiremos escapar dela se não construirmos uma economia forte, uma democracia includente e uma República efetiva.”
José Murilo de Carvalho, Forças Armadas e política no Brasil